Sandrinha Barbosa

Sou descendente do povo indígena Xokó originário do Sergipe, mas nasci na Amazônia brasileira, depois de meu povo emigrar para essa região. Aos 4 anos de idade, meu avô me inicia na Pajelança. Estudei a medicina ocidental em Manaus e medicina natural em S. Paulo (USP / Mogi das Cruzes). Atualmente vivo em Ayamonte, na Espanha. Com o marido tenho o projeto de música brasileira: Duo Igapó. Escrevo poesia há muito tempo. Publiquei o livro de poemas Igapó, em 2019 na Alemanha.

Sorria Renato                                       

(ao drama de Renato Cinta Larga, Porto Velho, Rondônia)                              


sorria Renato

desse acidente estúpido

consequência direta da grande confusão 

e desorientação totais imposta a vocês 

     Povo Nação Cinta Larga


sorria Renato

desses médicos carniceiros

dessa saúde pútrida e fétida que adoece 

grandemente a Latina América e Terceiro Mundo

onde você veio habitar em corpo Cinta Larga


sorria Renato

da dívida externa da constituinte

dos grandes projetos

        da impunidade que rege este país


porque agora já não existe funai

polonoroeste  inamps  lavrama do norte mirad catuva e outros

excrementos dessa natureza     em sua nova morada


sorria Renato 

sorria a caminho da Paz

verdadeira

na forma da Luz maior 



*


Réquiem Paralelo           

(ao massacre do Paralelo 11, Trajeto Juína/Aripuanã, Mato Grosso)

 

Réquiem

à brisa gélida

    e  sombria

que há 25 anos percorreu

    aterrorizada

de dor o Paralelo 11

 

Réquiem

ao testemunho de todas as aves 

        e árvores

ao obscuro do sol

     envergonhado

da crueldade dos homens ao canto

de dor das cachoeiras rios e igarapés

 

Réquiem

às centenas de mortos

     cuja alegria

tombou ferida na terra encharcada

de sangue

     e hoje ressurgidos

na luz vagueiam no espaço

     azul

do Cosmo em forma         

de estrelas