Mariana Cambirimba

mortos-vivos

 

todo o papel e todas as telas
são poucas para consumir
o desejo do mundo.

 

esse mundo imaginado,
de fronteiras imaginadas,
de corpos reconfigurados
enquanto nos devoram.

 

os ecos da independência
foram muito mais longe.
corpos mortos-vivos:
passado fictício.

 

atravessamos rios,
a mata desapareceu.
e sobre nós,
a sombria voz
da fome e da sede.

 

escancaram o olhar em direção
a estáticos retratos.
supostas raízes:
não mais existem.

 

ensurdecedor, o silêncio –

 

ninguém quer ver:

coloridas e vivas

a nossa gente.