Luiz Eduardo de Carvalho

Ao Menos o Céu aos Donos da Terra


Na noite alta, a lua clara de luz exata
tinge a penumbra com a cor dos caminhos
e a vereda ilumina com a dor de índios aflitos
na jornada da noite de lembrança tatuada
pela chibata, açoites, contra a revolta embotada
pelo discurso do caraíba a ofuscar sua sina.
Mapa de estrelas, sinais turquesas
no escuro tecido em céu anoitecido,
permanece o mesmo que guiou o medo
pela noite esquecida em lutas renhidas
entre mortes e tombos pela ancestral trilha
de inútil retorno à desmantelada tribo.
Céus do sertão não desceram para a terra,
jamais descerão, mas guardam a régua
que mede a bruta invasão sem trégua,
perdido lugar de muda na silenciosa inquietação,
a história que se transfigura na sombra da escuridão.
No lesado chão refeito, os mesmos reflexos:
igual o desfocado efeito do olhar perplexo
que mira o eterno céu em busca do nexo
que descortine o véu a encobrir tal enredo,
trama dos que impigem o desolado degredo
aos filhos herdeiros de sua própria origem
a fim de que para fora e longe dele migrem
sem resgatar o segredo de que terra e firmamento
dos vales e rios e montes e matas desse imenso chão
a eles, de direito e de fato, sempre pertencerão.