Kika Souza Lamounier

Exército de uma mulher só


Nesse corpo eu já morri várias vezes e renasci
Chorei lamentações em murais
Dormi de menos na insônia e ri
Na insônia escrevi demais
Acordada nos quintais pressupus a sanidade na esquina da paz
Aqui quem fala é uma filha pródiga
Literatura, poesia, rock in roll
Envolvimento com droga
Mãe de filho único primogênito
Black Alien já falou: 'ninguém fica ao relento do meu testamento'
Lá do Mauazinho eu sou rebento
Rua São José abençoou o meu desenvolvimento
10 anos sem mana Luciana nunca foi esquecimento
Foi na escola Carioca que me armei
A minha AK de palavra
Não tem trava eu destravei
Dis-PA-para metáfora, antítese, ironia
Sem medida, certeira, veloz a palavra da metonímia
Prefixo, sufixo do peito de aço
Couraça do cortisol da epiderme
Do próprio inimigo… o cansaço
Cansaço que não me vence, não me vencerá
Na costa rígida de ácido lácteo é sentido o toque
O tanto do peso que eu já suportei carregar
Vida é boa, mas não é mole
Comer algodão doce quase sempre a gente nunca escolhe
Hoje pensei na vida, vida louca, vida
Enquanto ela não me levar
Eu irei leve, leve, leve
Se for bobeira viver a realidade
Tô de bobeira e na espreita
Principalmente quando eles me gritam MACONHEIRA
E da janela do meu mundo
Eu sei, vocês não suportariam nem sentar na beira
Nem subir as ladeiras nem os penhascos,
Da Pedra do Arpoador projeto um futuro em traços, desfaço, refaço
Sol me arde a vista em dias de verão
Enquanto o metrô me abre as duas portas da mesma estação
Escrevo frases soltas e vagas
Enquanto eu engasgo com uma bala
Soluço solicito engasgo visceral
Mãe solo é o caralho: aqui a mãe é por todos vocês e coisa e tal
O extremo do fracasso eu já vi
Sintetizo aqui agora pra todos vocês
Embora esse exército seja de uma mulher só
Nesse jogo de derrotar o fracasso
Ah, nesse jogo eu já sou freguês!!!