Isadora D'Almeida

Molhada

O meu rio encontra o seu nas cheias do sul
no inverno, minhas águas correm pra outro rumo
as suas não respeitam o curso
caminhamos no contrário do confluir

Amanhã ou depois, trombo rios desconhecidos
encontro de águas acompanha tempestades torrenciais
e me transbordam
depois o céu limpa, e eu sigo meu correr sem pressa

As vezes cambaleio num riacho
esbaldo-me numa poça
embaraço-me nas pernas de uma palafita
lambuzo-me num charco, às gargalhadas

Pra depois seguir viagem
destino incontornável de tudo que é líquido:
a saliva
a seiva
o sulco de quem escorre