Marcos Roberto dos Santos Amaral

eu não posso estar aqui

 

eu não sou quem fala aqui

este instante não é o de agora

não contam eu você o terceiro o fora

o julgamento que vale

me transborda e lhe transborda e os transborda

tanto quanto varre as bordas

 

em que se divisam as perspectivas

que cartografam aquilo que pode

ser possibilidade e

impossibilidade de.

Toda coordenada sobra

algo uma fissão empuxo expurgo

o pulo do gato

ou qualquer coisa condutor

de um inevitável inviável

por sorte de que há

um eu que fala aqui nesse instante

 

quando a poeira descerra o flanco outrora

preenchido e a se preencher

de sol sal mar e menos



O Livro

Miscelânea de estilos, métricas, imagens, materialidades semióticas, referências de poetas e outros artistas e outras esferas de produção; palimpsesto de versos verbais e imagéticos que se repetem -  ipsis litteris, em partes, ou somente em alusão, do próprio autor ou de outros - mas que se diferenciam para vivenciar outros sentidos e outros afetos; panóplia de possibilidades de criação poética... são encruzilhados para iluminar, obumbrar, chocar, deleitar, a toa, fundir tempos, espaços, sujeitos, possibilidades e impossibilidades, confundir fronteiras, atrair mais as que duas margens obnubiladas abissais para excitar inspirações, transpirações e fugas do dado e delírios encontrados no esdrúxulo íntimo do belo do sábio do paranoico do revolucionário do que passa e não se vê e da vontade de oferecer algo que expurgue esconjure sensibilidades doentias e escravizadoras. Isso tudo do jeito que dá, inventando maneiras baratas de publicar e se aprofundando nas poéticas consagradas e marginais e experimentais e soltando o verbo como no paroxismo de um grito numa pilora de desespero e sobriamente consciente do que se está fazendo. E no meio saturação, vertigem, descentramento do feito, relativização do novo, encruzilhadas e fendas a beira de buracos dislalias gagueiras lapsos monumentos vislumbres alucinações encantos as vozes e os corpos do poeta saltam, não necessariamente em compasso, para encenar o aedo, o bardo, o vate, o bobo, o sátiro, o xamã, a musa, a lira, a sibila, a santa. Tempestade verbal, mutação e clínica. Eis mais um livro: voos subidas derivas.