Rodrigo Weber Jr.

De passagem


Você, minha vizinha tenra

Minha triste melancolia, minha deslinde vazia

Eu tenho que me render a ti

De passagem pela solidão, nos agouros puros

Nos delírios putos


Fazem de nós um pouco menos do que somos

Parto em mil pedaços

Sou anjo que cai no jardim 

Nem mesmo um demônio no teu ombro

Para por fim em números cardinais


Cardeais do Éden

Me levam a dizer que a gente quer mais do que pão sagrado

Safada e desnuda

Transbordam salientes pelos meus pelos


Pó nas minhas narinas

Sangue que corre em mim

Lágrima corrente

Descriminado, descriminalizado

Cromado peito de zinco


Telhado quente, a felicidade me desconhece

De passagem me arrefece 

Descobre, disputa, te chamo de pura


Pena demais não faz fé

Fé demais de que tem pena

Demora, sucinto, mentiras plenamente puras

Interssexuais


Mesóclise na minha língua

Minha boca com tua língua

E me martirizo

E mato

E parto para outro plano


A realidade apontada para o horizonte dos meus olhos

Na minha cabeça, arma quente

No meu colo, teus lábios

Foguete predestinado

Marte é longe e a Terra é nossa

Faço mundo, garganta profunda

Profana


O Éden distante

Diamantes nos meus dentes, cobre nos teus olhos

E teu olhar me derrete

O gélido fim, dos pares consoantes

Berlinda

Berlim

Talvez seja o portão de Brandemburgo

Talvez seja expurgo dos meus espólios


Face, dê-me um fim

Fim de vida

De semana

De tudo

Mais que um dia, mais que seria

Eu não vivo


Ninguém liga para os meus livros

Ninguém se toca pelo que escrevo

A pena que esmorece

Esclarece que você é fruto do diabo aos seus cornos

Forno elétrico


Tiro no escuro

Tiro sua roupa

Tiro minha vida

Não que eu vivesse, mas ainda resta alguma coisa

No meu espólio terreno

Amenidades nos bêbados da praça

Jogando dominó

Traças velhas fazem nó cego

Nas minhas roupas

Fico nu, mas meu corpo queima


Então que eu esteja de passagem

Pela tua vida

Pela vida

Sofrimento e solidão são balizadores de momento

Mergulho profundo entre tuas pernas

A morte me parece menos dolorida

Agora que a vida

Fica apenas de passagem...